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Crônica para minha mãe

Hoje eu queria te dizer, minha mãe, do quanto olhar para você me faz sentir saudade. Vontade de um tempo onde chamar por teu nome era fazer do teorema difícil a mais simples conta de somar. Querência dos anos através dos quais você pode me contar de fadas e dragões. E até me mostrar ou sugerir o que havia de bom no pote ao fim do arco-íris.
Dias onde fomos Alice. No país das poucas maravilhas palpáveis, de pouca grana, de muita dificuldade, mas onde o baú dos sonhos podia nos dar o tamanho, a cor, a roupa, a esperança que quiséssemos ter. Até porque tínhamos o bem maior: uma a outra. Eu tinha você, meu esteio e minha virtude. Você a mim, o trilho para um amanhã.
E o tempo passou...e a gente cresceu. Porque mães e filhos crescem através da vida, aprendendo a descobrir quem são através do que veem sonhado e vivido naquela que foi um dia minha filha e que a roda mágica do tempo e do desgaste cronológico transformou, sem que nem mesmo percebêssemos, em minha mãe.
Quantas vezes tive medo da noite escura e ouvir sua voz era fazer do meu quarto a mais inexpugnável fortaleza. Hoje olho para você e te vejo tão frágil que fecho os olhos para reconstruir a armadura que – imaginava – você tinha por debaixo daquela roupa. Sem medo do trabalho, da rua escura, do ônibus lotado, da chuva torrencial, da assustadora barata que ainda hoje me aprisiona no castelo tenebroso do eterno medo.
A você, minha mãe, a quem amo e quero tanto bem; a vocês, meus filhos, que um dia entenderão os mil sentimentos que levam a essa crônica; a todas as mães de sangue, de leite, de afeto, de compaixão, de prazer, de escolha.........a minha singela homenagem.
Beijo grande!!

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